terça-feira, 22 de agosto de 2017

O PRIMEIRO ANIVERSÁRIO DO BIG BRASA



A primeira festa de aniversário do Big Brasa foi realizada no dia 28 de abril de 1968, no Balneário Clube de Messejana, com música o dia inteiro: matinal, vesperal e tertúlia, entrando pela noite. O símbolo desse primeiro aniversário foi uma flâmula em forma de uma guitarra vermelha e branca, com os dizeres alusivos à festa. Na matinal atuaram os conjuntos Os Rataplans, Os Belgas e o Big Brasa. À tarde e noite Os Milionários, a ala feminina do Big Brasa e novamente o Big Brasa.


A música de todos conjuntos musicais fizeram a alegria e animaram centenas de pessoas naquele primeiro aniversário do Big Brasa. Pode-se afirmar com certeza que aquela foi uma das maiores e melhores festas do Balneário. Houve participação maciça durante toda a festividade e o clube esteve lotado o dia inteiro. Com um detalhe: também foi uma das primeiras festas dessa natureza a ser transmitida pelo rádio, com participações ao vivo! Uma flâmula comemorativa foi distribuída na entrada do clube a todos os participantes, como lembrança do evento. A Diretoria do clube nos ofereceu um troféu, em comemoração a nosso primeiro aniversário e pelo reconhecimento de nosso sucesso em Fortaleza. Durante o evento houve uma confraternização geral entre os conjuntos participantes, dentro de um clima de amizade e coleguismo.

A ALA FEMININA DO BIG BRASA




Incentivadas pela formação do Big Brasa, Célia Alencar, Aliete Lima, Lucinha, Neide e Adriana Oriá formaram a ala feminina do grupo. Foi como uma brincadeira, mas chamou a atenção da moçada de Messejana. As meninas ficaram empolgadas com o Big Brasa e resolveram ensaiar algumas músicas. Com o nosso instrumental, chegaram a se apresentar algumas vezes nos intervalos das festas do Balneário Clube de Messejana, sempre com bastante agrado por parte dos presentes em face da novidade.         

PROMOÇÕES REALIZADAS PELO BIG BRASA



O Big Brasa realizou diversas promoções por conta própria, no Balneário Clube de Messejana. Em algumas delas o conjunto obteve sucesso, mas em outras foi prejudicado pelo famoso jeitinho brasileiro de querer levar vantagem em tudo. Para começar, nestes eventos a diretoria do Clube sempre ficava com a renda do bar, deixando a venda de entradas na portaria para o Conjunto. Mas era assim que os problemas começavam a ocorrer. Enquanto a maioria das pessoas comprava ingresso normalmente, havia aqueles que a qualquer custo queriam botar todo mundo para dentro do clube sem pagar. Muitos se diziam diretores ou amigo dos diretores. Alguns membros da diretoria efetiva usavam de sua influência para colocar pessoas no clube sem pagar ingresso. Apenas para conhecimento pleno da situação houve casos extremamente ridículos, quando algumas pessoas tentaram entrar sem pagar pulando o muro do Clube e se escondendo na vegetação existente até surgir uma oportunidade de passar para a festa. Em outra oportunidade houve um pequeno grupo de rapazes que entrou nadando pela lagoa de Messejana, com a roupa na cabeça para no molhar. Isso foi incrível, mas aconteceu! Não tinha jeito, a mentalidade de alguns era essa... 

OUTRAS COMEMORAÇÕES DE ANIVERSÁRIO


O segundo aniversário do Conjunto Big Brasa, em 27 de abril de 1969, foi realizado no Recreio dos Funcionários (hoje Recreio Clube de Campo), na Lagoa Redonda. Fizemos um acordo para que os sócios do Balneário Clube de Messejana fossem recebidos como convidados especiais. Foi uma festa belíssima e muito organizada.

Abrilhantaram aquela festa, além do Big Brasa, mais dois conjuntos musicais: Os Milionários e Os Belgas. Naquele dia os Belgas se apresentaram muito bem, como sempre! O grupo, composto pelo Edson Girão, Eudes, Ricardo Girão e Júlio, deu um show à parte no que se refere  vocalização. Tocavam e cantavam os arranjos dos Beatles de maneira espetacular, com o som bem ajustado, tudo cem por cento.


O quarto aniversário do Conjunto Big Brasa foi realizado no dia 22 de maio de 1971. Desta vez no Clube General Sampaio, no centro da cidade. Centenas de pessoas estiveram presente naquela festa. Para você ter uma ideia, O Brasa Seis, um dos melhores conjuntos da época, tocou uma parte da festa durante o dia fazendo uma apresentação impecável. Muitos de nossos amigos da televisão, radialistas e o pessoal da imprensa compareceram em peso e curtiram bastante a bonita festa. O vestuário do Big Brasa esteve como sempre muito elegante, com um grupo de camisas muito bonito. O nível técnico do conjunto neste período esta muito bom, repertório e tudo mais.     

REGISTRO DE APRESENTAÇÕES - O MAPA SUMIDO



Que falta nos faz este registro, que seria uma verdadeira relíquia! Mais ou menos em 1972 eu organizei um mapa, feito em uma folha de cartolina branca, contendo anotações de 500 apresentações feitas pelo Big Brasa. Tive muito trabalho na elaboração desse controle, para recuperar ao máximo possível as funções musicais em que o Big Brasa atuou. Esse levantamento minucioso continha indicações dos locais, clubes, cidades e às vezes até mesmo os nomes dos aniversariantes. Esse precioso controle infelizmente sumiu misteriosamente de nossa sede. Daí por diante fizemos mais centenas de apresentações, inclusive as da televisão, nas quais o Big Brasa tocava diariamente, mas não houve mais a preocupação e nem a paciência de manter tais registros com tal precisão. 

O CONJUNTO BIG BRASA PELO INTERIOR DO CEARÁ


O Conjunto Big Brasa esteve presente em muitos municípios cearenses, para animar festas de inauguração, bailes de formatura e outros eventos, nos quais sempre foi muito bem recebido. Em quase todas as oportunidades encontrávamos faixas e cartazes pela cidade ou em frente ao clube local, dando boas-vindas ao conjunto, além da recepção feita pelas fãs e curiosos.

O sucesso nas cidades interioranas, sem tirar os méritos e a qualidade do próprio conjunto, deve ser creditado também à enorme divulgação realizada através dos programas de televisão que o Big Brasa participava, pela TV Ceará, Canal 2, dos Diários e Emissoras Associados. Nossa imagem chegava diariamente em todos os municípios e até outros estados, como o Piauí, através de antenas repetidoras!

Dentre os municípios cearenses que o Conjunto Big Brasa se apresentou, sendo que em alguns deles muitas vezes, lembro dos seguintes: Aquiraz, Aracati, Baturité, Canindé, Cascavel, Caucaia, Crateús, Guaiúba, Horizonte, Iguatu, Ipueiras, Itapajé, Itapipoca, Jaguaruana, Maracanaú, Maranguape, Massapê, Mombaça, Nova Russas, Pacajus, Pacatuba, Pacoti, Pindoretama, Quixadá, Quixeramobim, Redenção, Russas, São Benedito, Sobral, Tianguá, Umirim e Várzea Alegre.

Nas cidades do interior a rotina praticamente era idêntica quando chegávamos: encontrar o endereço do clube ou o local da apresentação, retirar todo o equipamento dos transportes e montar tudo, deixando os instrumentos no ponto para a festa, com os amplificadores e caixas devidamente testados, guitarras afinadas, tudo de maneira que a gente pudesse chegar apenas a alguns minutos do início da função. Em seguida o grupo ia tomar banho, jantar e nos arrumar para o retorno ao clube. No podíamos demorar nessas etapas para não perder o horário. Aí é  que vem a responsabilidade. Eu controlava o pessoal, ficando de olho para que ninguém se atrasasse.

As hospedagens sempre foram simples, mesmo porque o interior do Ceará, exceções à parte, na época no possuam bons hotéis ou pousadas. Na maioria dos contratos o conjunto se hospedava em um pequenos hotéis ou pensões de classificação “sem estrelas”, onde nos preparávamos para o baile. Nestes momentos vale dizer que a descontração de todos, as brincadeiras entre os integrantes, tudo aquilo muito divertido e que trás saudades! Todas as viagens do conjunto eram sempre animadas em razão do alto astral da turma. Depois dos bailes, quando o grupo estava de volta para Fortaleza, elas se tornavam cansativas, pelo percurso e acomodação nos transportes, além do esforço natural pela noite de trabalho. Para quem dirigia a responsabilidade era bem maior.

Durante toda a existência do Big Brasa consegui manter a liderança sobre o grupo de forma bem democrática. Na realidade eu nunca me senti dono do conjunto e sim um guitarrista e companheiro dos demais integrantes. Nos momentos em que tive que tomar decisões difíceis, em nome do Big Brasa, nunca hesitei em tomá-las. Quando o assunto envolvia todo o pessoal a turma era consultada, para decidir sempre com base na maioria.

- A festa em São Benedito

Este episódio tem por objetivo enfatizar as dificuldades nos deslocamento do Conjunto Big Brasa. Primeiramente por não ser uma empresa bem estruturada, pois não havia isso naquela época nos conjuntos musicais cearenses tínhamos que exercer vários papéis e funções. Vejamos:

Lembro-me de um contrato do Big Brasa para a cidade de São Benedito, a uns 350 quilômetros de Fortaleza, na Serra de Ibiapaba. Foi uma das mais cansativas funções musicais que enfrentamos, exigindo de todos muito preparo físico, psicológico e mental. O conjunto tinha tocado na noite anterior em Fortaleza. Nosso equipamento passou a noite na Kombi, preparado para a viagem e a nova batalha. Acordamos no dia seguinte e depois de termos almoçado cedo, por volta das onze horas da manhã, seguimos viagem. Eu dirigi a Kombi naquele dia. Depois de mais ou menos umas sete horas de viagem, sem nenhum problema, conseguimos chegar a nosso destino. Ao chegar montamos imediatamente o instrumental no clube (nestas ocasiões todo mundo tinha que virar bigu, pois este sozinho não daria conta do recado a tempo). Muitos equipamentos para desmontar, instalar, fios e cabos para ligar, testar o som dos amplificadores, afinar guitarras etc. Quando tudo estava pronto saímos para tomar um banho e jantar, também de forma rápida, para iniciarmos o baile no horário previsto. Ao retornar para o clube, tudo estava certinho com os instrumentos e a festa inteira transcorreu sem anormalidades. Ao final da festa o inverso: a desmontagem de tudo e a viagem de volta. Todo mundo cansado, dormindo e eu com atenção redobrada ao volante. Daquela vez passei mais de trinta horas ligado direto, sem dormir, um verdadeiro risco.
Hoje reconheço que todos nós passamos por um verdadeiro perigo, pelo fato de voltar dirigindo depois de uma noite toda acordado. Meu anjo da guarda estava ao meu lado, mais uma vez...

- Em Várzea Alegre


A mobilização do Big Brasa para cumprir este contrato foi intensa. O grupo tinha se apresentado na noite anterior em Fortaleza, salvo engano no Clube Líbano. Depois da festa, com os instrumentos e material arrumados nos transportes descansamos algumas horas e partimos para Várzea Alegre em nossa Rural e também com a Kombi do Big Brasa, em uma viagem longa e cansativa. A festa seria uma Formatura. Com início previsto para as 22 horas, acabamos começando a tocar quase meia-noite por conta do atraso dos concludentes. E eu, como responsável pelo conjunto sempre avisava para o presidente do clube que seria bom iniciar logo, porque a duração do baile era de cinco horas e eles poderiam perder com aquela demora. A resposta foi imediata: o diretor do colégio que nos contratara disse, de forma grosseira e gesticulando bastante: “As cinco horas vão ser contadas por este relógio aqui (apontando para o dele) e o dinheiro para o pagamento do conjunto está aqui em meu bolso”... Levei aquele recado para os outros músicos e chegamos à conclusão de que tínhamos que esperar mesmo e aturar o posicionamento do diretor para evitar qualquer problema que viesse a nos prejudicar. É o velho ditado se confirmava: “manda quem pode, obedece quem tem juízo”. Mesmo com o início retardado a festa foi muito boa e quase amanhecemos o dia, para voltar imediatamente para Fortaleza para mais um evento. 

VIAGENS PARA OUTROS ESTADOS




Os contratos do Conjunto fora do Estado do Ceará foram todos marcantes e nos deixaram boas lembranças. O Conjunto Big Brasa esteve nos Estados de Pernambuco, Rio Grande do Norte, Maranhão e Piauí. No Maranhão, por exemplo, tocamos muitos bailes em boas temporadas realizadas em Balsas, Carolina e Caxias e São Luís. Todas as temporadas muito por demais gratificantes e nos trouxeram muitos aprendizados.